Carlos, sossegue,
o amor é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo e segunda-feira
ninguém sabe o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para as bodas que ninguém sabe quando virão, se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você, e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas, vitrolas,
santos que se persignam, anúncios do melhor sabão, barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.Você é a palmeira, você é o grito que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam. O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos, mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond de Andrade
Não se mate
Postado por
Dháfine Mazza
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sábado, 5 de janeiro de 2008
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