Li no jornal que o açude da minha cidade está prestes a transbordar. Essa notícia deixa a mim e todos os meus conterrãneos extremamente feliz, pois ver o Açude Orós sangrando é um espetáculo de rara beleza e que não acontece todos os dias. Expressei minha alegria para uma amiga e ela se mostrou espantada com isso.
-O que tem de demais?
A indagação dela me pareceu bastante estranha, quase como perguntar o que tem de demais em uma tsunami acontecer (estou exagerando um pouco, é verdade). Ora, mas como esperar que alguém que não more, tenha morado ou mesmo conheça Orós entenda e sinta o que é ver o açude transbordar? Depois de digerir a indagação, de tentar explicar o que tem demais em um açude transbordar, percebi que somente que já viu tal espetáculo da natureza ou quem tem alguma ligação com Orós é capaz de entender o que é ver o Açude Orós sangrar.
Somente quem viveu a infância inteira ouvindo histórias fantásticas dos períodos de cheia do açude sabe o que é isso. Histórias que, para mim, até 2004 eram quase folclore. Somente quem viu o açude sangrar e julgava que isso jamais voltaria a acontecer sabe o que significa vêlo novamente cheio. Somente quem recordava com um brilho saudoso nos olhos e um tom de voz melancólico as cheias do açude sabe o que é vê-lo novamente transbordar.
Em 2004, após longos anos, o Açude Orós volta a transbordar. Uma enorme alegria para os oroenses, que se apóiam na importância do açude, seja para sobreviverem através da agricultura, seja para esquecerem que Orós é uma cidade tão pequena que talvez fosse completamente esquecida sem a existência do reservatório.
Este ano vivemos novamente a esperança de vê-lo sangrar. Faltam apenas dois metros para que isso aconteça. Mas somente quem procura se informar todos os dias de quanto falta para ele sangrar ou visita a parede do açude para verificar se falta muito consegue compreender a graça do feito.
3 comentários:
Sò que já viu o espetáculo de perto sabe da grandeza que é este acontecimento. neste momento faltam 14cm
Ei, não fui eu que disse "o que tem de demais?", né?
Eu não sou assim tão insensível. Distraída sim, insensível jamás!
E achei lindo o açude sangrando. :)
Algumas coisas, ás vezes, até é melhor que os outros não saibam... Acho que dá um gosto ainda mais especial pra gente ser e compartilhar com outros a nossa terra, o lugar onde nascemos. Azar de quem não entende! Excelente post, moça!
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