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A Magia do Espelho: Mamãe morreu?

A Magia do Espelho

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Mamãe morreu?


Mamãe morreu? Morreu de verdade? Não volta mais? Estas são algumas das perguntas que tenho me feito constantemente nos últimos dias, sobretudo ao acordar, quando me deparo com uma realidade totalmente diferente da que estava acostumada e da que eu imaginava que viveria pelos próximos anos. A essas perguntas, somam-se muitas outras, tais como: E agora, o que será de nós? Por que isso aconteceu, sendo ela tão jovem? Será um castigo de Deus? Um dia essa dor vai passar? Será que um dia irei encontrá-la? Por quê? Por quê? Por quê?

O fato é que, mesmo sabendo que a morte é inerente ao ser humano e que, mais cedo ou mais tarde, todos nós teremos um encontro com ela, seja pela nossa própria morte ou pela morte de alguém muito amado por nós, achamos que este dia está muitooo longe e que, quando ele se aproximar, teremos tempo de corrigir nossos erros, fazermos coisas que queremos ou nos prepararmos melhor para encarar a morte. Eu também pensava assim, mas tive a confirmação de que as coisas não ocorrem desta forma, que a morte vem, muitas vezes, sem dar aviso nenhum, no momento que menos esperamos.

Quando mamãe sentiu um dor em uma noite de segunda-feira, no final de junho, ficamos preocupados, mas achávamos que seria algo "simples", que teríamos tempo para investigar e tratar, sem correrias, para que tudo ficasse bem, sobretudo porque essa dor passou logo. Mas, quando a dor voltou, muito forte, na manhã de sexta-feira da mesma semana, no dia 25 de junho, nossa preocupação cresceu consideravelmente, mas nunca, em nenhum momento, passou pela nossa cabeça que estávamos perdendo mamãe.

Foram quase três dias até descobrirmos o que ela realmente tinha. Diversos exames foram feitos, todos apontando para uma apendicite, mas, somente durante a cirurgia, veio o diagnóstico correto. Diagnóstico tardio, incapaz de reverter a situação da minha amada mãe. Fomos surpreendidos por uma doença que nunca tínhamos ouvido falar, que veio em sua forma mais grave e tirou mamãe de nós. Após a cirurgia, ela ainda ficou dois dias em coma e partiu para a eternidade, no início da tarde de terça-feira, 28 de junho. Foram dois dias de angústia, mas de muitas orações, louvores e súplicas para que ela ficasse boa. Nada adiantou.

Depois disso e de todos os horrores de velar e enterrar a pessoa mais importante da nossas vidas (da minha, das minhas irmãs e do meu pai), restou o choque, a perplexidade, a incredulidade, a falta, a dor, as lembranças, a saudade incomensurável, as lágrimas e um turbilhão de perguntas, de “por quês”, de “e se...”. Pesquisando e conhecendo a gravidade da doença, sabemos que salvá-la seria mesmo um milagre, mas não conseguimos aceitar esta perda tão repentina.

Mamãe nunca ficava doente. Era raro vê-la gripada ou mesmo com dor de cabeça. A única vez que a vi sofrer com dor foi durante uma crise de hérnia de disco, que, após controlada, nunca mais a incomodou. O único problema de mamãe era com o colesterol alto, que ela já estava buscando controlar com o auxílio de remédios.  Além disso, mamãe sempre foi a mais saudável de suas irmãs e eu acreditava que ela viveria muito, ficaria bem velhinha, assim como vovó, mãe de mamãe, que, no dia 04 de julho, completou 94 anos.

Por outro lado, papai sempre nos inspirou mais cuidados, pois é de uma família com um sério histórico de doenças cardíacas, onde, até agora, a idade máxima alcançada por um de seus irmãos foi 70 anos. Os demais morreram com idade entre 63 e 68 anos, e ele completou 60 neste ano, motivo pelo qual sempre brincava com mamãe, dizendo para ela se preparar, pois ele já estava perto de partir. Com todo esse histórico e sofrendo de pressão alta, nunca pensamos em perder mamãe antes dele, não que quiséssemos perdê-lo, pois esta ideia também é MUITO dolorosa. Contudo, fomos surpreendidos, pois nunca pensamos em perder mamãe. Levamos uma rasteira e confirmamos que as coisas não ocorrem do jeito que pensamos, não seguem lógicas.

Passados 16 dias da partida de mamãe, ainda não temos respostas para as perguntas que surgem a todo momento. Mas, a despeito da nossa vontade, tentamos nos convencer de que ela realmente não voltará mais, mas que continuará vivendo em nós. Esse convencimento não é nada fácil. Tento tocar a vida, mergulhar no trabalho, o que tem ajudado, mas me ela não me sai do pensamento. Me pego pensando em combinar coisas com ela ou com pensamentos do tipo: “Quando mamãe chegar, vamos fazer isso” ou “Preciso perguntar isso pra mamãe”. Ainda espero por ela e, quando me dou conta de que ela não voltará mais, entro em desespero.

Penso que jamais entenderemos porque ela foi levada tão cedo, tão jovem, tão cheia de saúde, de vida, de sonhos e de vontade de viver. Se acostumar com a sua ausência tem sido muito difícil, uso a palavra muito por falta de outra que consiga expressar a intensidade da dificuldade que enfrentamos. Durmo e acordo pensando nela, tudo que vejo me lembra ela. Quero ligar, quero conversar, comentar coisas com ela, perguntar sua opinião sobre assuntos diversos do cotidiano, combinar coisas, planejar coisas etc., mas me frustro todas as vezes, a cada minuto que penso nela, porque sei que nada disso será mais possível.

Alguns podem pensar que, por morar distante dela, eu sofra menos, uma vez que o meu dia a dia não era com ela e, por isso, não mudou muita coisa. De fato, eu continuo tendo que trabalhar, as crianças dos vizinhos continuam brincando e gritando no meu prédio, as roseiras que ela plantou, com o auxílio de papai, continuam crescendo na minha varanda e eu continuo tendo que resolver os problemas do cotidiano. Contudo, a vida não é e nunca mais será a mesma. O mundo ficou mais cinza e triste pra mim e para todos que a amavam e amam.

A ligação que possuímos com uma pessoa não está relacionada ao nosso dia a dia, ao nosso cotidiano, à nossa rotina. É algo muito maior que, mesmo brigando, criticando, se desentendendo, não acaba, não passa, não morre. Ela poderia não estar fisicamente no meu dia a dia, mas sempre esteve no meu íntimo, nos meus pensamentos, nas minhas esperas constantes para revê-la, pela sua chegada ou pela minha ida até a sua casa, a minha verdadeira casa.

O que sinto, assim como minhas irmãs e meu pai, é um buraco, um vazio, uma falta que não tem explicação, que nada preenche. Uma saudade angustiante, porque sei que, pelo menos nesta vida, não irei mais abraçá-la, a não ser em sonhos. Somente quem já passou por uma situação assim é capaz de entender o sofrimento, a dor da ausência, da perda.

Tenho saudade do seu jeitinho avoado, de ligar e ouvir ela responder “Oi, amor”, quando eu falava “Oi, mãezinha”, de conversar com ela, de ouvir sua opinião, de trocar ideias, de sonhar juntas etc. Apesar de todo o amor que sempre tivemos uma pela outra, também tivemos desentendimentos, como a maioria das mães e filhas. Essas coisas e o meu jeito de ser com as pessoas, em alguns momentos, inclusive com ela, têm me deixado mais triste ainda, pois acho que não fui a filha que ela merecia ter tido, acho que poderia ter feito muito mais por ela, mimado e amado ela muito mais.

Tenho culpa pelas coisas que não disse, pelas coisas que não fiz, pelas coisas que pensei em dizer e fazer, mas que não executei. Sinto culpa e remorso porque ela realmente merecia muito mais de mim, mas eu achei que nós duas tivéssemos mais tempo e que eu estava fazendo o suficiente, mas não estava. Tento me consolar pensando que eu sou humana, que eu tenho falhas, sou cheia de defeitos, mas, nada do que eu tenha feito, dito ou deixado de fazer ou dizer modificou meu amor por ela ou o dela por mim. Me consolo lembrando dos nossos bons momentos e de que sempre procurei dizer e repetir para ela que eu a amava muito.

Apesar das minhas falhas, imperfeições e erros, sei que ela, tinha orgulho de mim e das minhas irmãs, que nos amava incondicionalmente. Ela tinha aquele orgulho de mãe, muitas vezes exagerado, que deixa a gente envergonhada, mas que, no fundo, a gente adora.

Não posso mais sentir mamãe fisicamente, sei que ela continua viva, pois o que ela nos ensinou e deixou conosco é forte demais para morrer com o seu corpo. Mamãe nos ensinou muito em vida, mesmo quando achávamos que não, e também em morte. Tento acalmar meu coração pensando que a morte não é o fim, mas não é fácil.

Ainda vai demorar MUITO até eu digerir tudo isso, aceitar a morte dela, aprender a lidar com isso de forma saudável, sem fingir que nada aconteceu ou sem empurrar a dor para debaixo do tapete. Hoje, alterno momentos de alegria e gratidão por ter vivido 26 anos com ela, por ter tido ela como mãe, com momentos de extrema tristeza e desilusão com a vida.

Quando digo para as pessoas “Só Deus para nos consolar” ou quando escuto isso delas, sei que só Ele mesmo, pois somente uma força sobrenatural, muito além do nosso entendimento, é capaz de mostrar uma luz, de dar conformação e consolo a um coração despedaçado e sem esperanças. Estou buscando forças em Deus para me ajudar e ajudar a minha família.

Aos amigos que foram ao velório e ao enterro, aos que ligaram, mandaram mensagens, e-mails etc., agradeço sinceramente a consideração, o carinho e a atenção. Peço desculpas se estou isolada, se não quero conversar, mas estou sentindo necessidade de ficar só. Escrever aqui já me ajudou muito. E, aos que perguntam se preciso de algo, eu quero responder que sim, que preciso MUITO de mamãe, MUITO MESMO. Mas, como não posso tê-la, aviso que preciso também de orações, para mim e para minha família. Peço que orem, com real interesse, para que mamãe, papai, minhas irmãs, eu e todos os parentes e amigos que amam mamãe fiquem bem, cada um na sua nova realidade. Precisamos disso.

9 comentários:

Janaína Bento 14 de julho de 2011 às 02:59  

Moça, como tu mesmo dissestes neste post, só "força" mesmo para superar a dor. E essa força vc já tem, pois já voltou a escrever. E o isolamento faz parte desse fortalecimento. Sei que ao final de tudo, não restarão mágoas ou sentimentos de culpa, ficarão as boas lembranças, pois essas sempre estão em maior quantidade, nós (às vezes) é que não nos damos conta disso. Bjs.

Fabianny de Alencar 14 de julho de 2011 às 15:10  

A gente sempre acha que vai tá pronto para quando isso acontecer, mas nunca tá. Tenho rezado todos os dias por ti e por tua família, para que tenham forças e consigam seguir bem em suas vidas com a memória de tua mãe no coração.

Guilherme 14 de julho de 2011 às 15:33  

Não tenho como te dizer, de acordo com o meu entendimento do que é morrer, que tudo vai ficar bem, que há a certeza do reencontro, que a vida, na verdade, apenas (re)começou. Não tenho direito de empurrar minha crença à sua goela abaixo, de dizer que a dor de perdxer alguém faz parte do processo de amadurecimento do nosso espírito, que não axiste acaso. Entretanto, e sobretudo, espero do fundo do meu coração (e pela nossa amizade) que você tenha entendimento de que não lhe faltam ombros para chorar, quantas vezes seja necessário. Meu amor por você também é lindo, assim como o seu por mim. Saudades imensas, vontade de te apertar, deitar você aqui, cuidar de você, deixar seu coração um pouco menos machucado. Você, Dháfine, é mais que especial, é fundamental na minha vida.

Si Faustino 14 de julho de 2011 às 15:53  

Amiga, não é surpresa o isolamento, a autorreflexão ou a necessidade de "digerir" o que aconteceu. É normal o desespero, a revolta, o vazio e a sensação de estar anestesiado. Dizer que consigo me colocar em seu lugar é mentira, pois nunca passei por isso que você vive agora. A questão é: estamos aqui para te dar suporte e vários ombros amigos. Você, suas irmãs, seu pai e sua saudosa mãe estão sempre nas minhas orações. O tempo ajudará a transformar a dor em uma lembrança carinhosa e eterna, como o amor dela por vocês. =*

Unknown 15 de fevereiro de 2013 às 18:37  

Meu Deus! Estou passando pela mesma coisa no momento. Nunca vi algo doer tanto como essa tal de saudade! Não consigo parar de pensar na minha mãe... Tão nova, tanta vida, tantos planos... Acho que nunca entenderemos por que estas coisas acontecem...

Unknown 15 de fevereiro de 2013 às 18:40  

Perdi minha mãe ano passado, uma pessoa maravilhosa, jovem, alegre, querida, cheia de vida. Todos os dias tenho de me convencer se não é mentira tudo o que está acontecendo! É muita saudade e frustração por as coisas continuarem acontecendo e ela não está mais aui para ver...

Celinha 24 de fevereiro de 2013 às 02:26  

Menina garota órfã , perdi minha amada mãe exatamente dois anos atras com 94 anos muito sofrida cumpriu sua Liinda e longa Missão !Cinco meses. depois amado papai quase. 98 anos nao resistiu acredito estão juntos para sempre! Leio seu depoimento tão Jóvem tão pouco tempo lidar Grande perda. Sua amada Mãe! As saudades sao muitas e acho nao existe remédio só as lindas recordaçõeses,momentos que esteve junto a ela! Que Deus minimize seu sofrimento! Tenho site www.celiadecristal.com e. Vc vai entender. Como portadora síndrome rara "ossos de cristal" so tenho agradecer a Deus ter sido entregue a dois. anjos especiais. Amados Pais! Nas minhas orações vcsempre será lembrada Força e muito carinho. Celia( nao pude ser mãe biológica mas tenho 6 sobrinhos filhos gerados no útero de meu coração)

Unknown 26 de janeiro de 2015 às 15:04  

Querida
Perdi minha mãe dia 16 de janeiro de 2015 e o que você escreveu é o que sinto agora igualzinho...
A única diferença que tenho um irmão e não irmãs...
Como você está hoje em dia?
Eu tenho uma dor tão grande no peito e quero encontrar minha mãe o mais rápido possível...
Roseli

Unknown 26 de janeiro de 2015 às 15:06  

Querida,
Me sinto igualzinho a você nestes comentários... minha mãe faleceu dia 16 de janeiro de 2015.
A unica diferença é que tenho irmão ao invés de irmãs.
Como você está hoje? Eu não vejo a hora de reencontrar minha mãe novamente.
bjs Roseli

Vale a pena ler de novo

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