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A Magia do Espelho: agosto 2011

A Magia do Espelho

Espaço para devaneios, reflexões, desabafos, dicas culturais e otras cositas más

Um pequeno desabafo



Mamãe se foi não tem dois meses, mas, pela quantidade de mudanças e sentimentos que vivi nesse período, parece que já faz um século. A saudade e a falta que ela faz são enormes, indescritíveis, pois ela nos amava incondicionalmente e vivia para nós. Frequentemente sinto seu cheiro, seja em casa ou na rua, penso sempre que ela voltará, que é apenas uma ausência longa, mas que, um dia, ela estará de volta, embora a razão em diga que não.

Além de lidar com a dor da perda de mamãe, com a tristeza e com a saudade, tenho tido que lidar com outros problemas familiares e Deus sabe como o fardo tem sido pesado. No meio dessa luta, que jamais imaginei que passaria, tenho alternado momentos mais “leves” com momentos de profunda tristeza. A minha vontade seria morrer junto com mamãe, assim evitaria tanto sofrimento, mas não foi essa a escolha de Deus, então, tenho que seguir a vida da melhor maneira que posso.

Estou me esforçando para seguir em frente, para fazer um bom trabalho e ser uma boa companhia para as pessoas (elas não gostam de gente triste!!!), mesmo que, vez por outra, lágrimas insistam em cair dos meus olhos. Se me perguntam se estou bem, para algumas pessoas (que não entenderiam o que estou passando), digo que sim, embora contrariada. Para outras, digo que não e acho que as coisas nunca vão ficar realmente bem depois de toda essa experiência triste e traumática. Afinal, vai sempre faltar uma parte de mim. Uma parte quase vital.

Estou aprendendo a fazer as coisas sem mamãe, aliás, sem a sua presença física, pois ela me acompanha dia e noite, em qualquer lugar, sempre nos meus pensamentos e orações. Estou reaprendendo a sorrir, a fazer piadas, a elaborar planos, mas, no meu íntimo, sempre esperando pelo dia do nosso reencontro.

O engraçado e estranho, ao mesmo tempo, é que, embora a morte seja uma realidade para todos nós (não importa o quão bonito, rico ou legal você seja, você também irá morrer, pois a morte vem para todo ser vivo), nós não estamos preparados para lidar com a perda de pessoas amadas. Nem quem perde, nem quem vê alguém perder. Algumas pessoas, se te veem triste pela perda, dizem que você tem que parar de chorar, porque a vida continua. Outras, se te veem sorrindo, acham que você já superou a perda. Sinceramente, acho que ninguém supera a perda, mas aprende a conviver com ela.

No meu caso, estou sempre com essa tristeza no meu coração, mas nem sempre a expresso. Nem todos os dias eu estou “feliz” (como se ser realmente feliz fosse possível agora), nem todos os dias eu quero cortar meus pulsos. Infelizmente, as pessoas ainda olham muito para a vida dos outras e deixam de se importar com a sua. Olha para a vida alheia, não para ajudar, mas simplesmente para julgar. Sei que esse é um comportamento “comum” na natureza humana, mas é difícil de lidar.

Em menos de dois meses, sofri, aprendi e constatei coisas que jamais imaginaria. Entre essas coisas, está a questão da amizade. Recebi apoio de pessoas que já estavam fora do meu cotidiano há muito tempo, de amigos de infância que eu não via há muitos anos, mas que, mesmo assim, guardavam um grande carinho por mim e pela minha família. Foi um momento para revelar também quem são as pessoas que passaram e que estão na nossa vida. Por outro lado, algumas pessoas que fazem parte do meu cotidiano me decepcionaram, não tiveram uma atitude de amigo. Em alguns casos, isso não foi uma surpresa, eu até já imaginava, mas me recusava a aceitar. O comportamento dessas pessoas só confirma para mim o egoísmo delas; o quanto elas se consideram inatingíveis por qualquer desgraça, uma vez que a sua família e a sua vida estão muito bem, obrigada; e o quanto estão apegadas às aparências.

Essas são as pessoas que não gostam de gente triste, que gostam de oba-oba, de dizer “uhu, vida loca! Olha como eu sou feliz”, valorizam mais uma roupa, uma festa ou uma companhia de diversão do que amizades verdadeiras. Para essas pessoas, além de relatar a minha decepção com elas, só tenho algo a dizer: vocês não são inatingíveis e, no dia que passarem realmente por uma barra pesada, somente os amigos verdadeiros estarão lá para ajuda-las. Não vai ter roupa bonita, status ou companhia de farra. Só a família e os verdadeiros amigos. Agora, se não cultivarem essas amizades, a situação será ainda mais difícil.

Esse foi só mais um desabafo, do que posso contar nesse momento, porque se fosse para falar tudo, abertamente, nem sei o que aconteceria. Fico por aqui, digerindo, aos poucos, minhas dores, tristezas e decepções. Elas também fazem parte da vida e eu, como qualquer outro ser humano, não estou imune a elas.

Saudades da Infância II

Ah, que saudade de ser criança, de não ter outra preocupação a não ser brincar, brincar e brincar. De ir pra escolar e esperar ansiosamente a hora do recreio para comer um gostoso lanche e me divertir com meus coleguinhas, brincando das mais variadas formas: pega-pega, pular corda, bandeirinha, amarelinha, massinha de modelar etc.

Que saudade de ir para casa depois da escolar e passar o resto do dia vendo meus programas preferidos, sem me importar com o tempo, sem pensar em problemas para resolver, sem medos ou receios, sem pressa de acabar. Apenas me deitar confortavelmente e assistir a desenhos como Pica-Pau, Caverna do Dragão, Ursinhos Carinhosos, Smurfs, Ursinhos Gummi, Turma da Pesada e muitos outros. Emendar um programa no outro, rir muito com as trapalhadas do Chapolin e do Chaves, aprender coisas novas com o Rá-Tim-Bum e com o X-Tudo, ver a representação de clássicos infantis no “Contos de Fadas”, um dos meus programas preferidos na infância.

Saudade de brincar na rua, correr sem medo de ser feliz, de chamar os coleguinhas da vizinhança e fazer uma supergincana em casa, como no programa da Xuxa, com direito a imitar a descidinha da nave e tudo o mais. Saudade de imitar as novelas, de tomar banho de chuva, de inventar brincadeiras e ter sempre um aconchego gostoso de pai e mãe.

Sim, sim, eu era feliz e não sabia. Ou até sabia, mas não dei o devido valor. Hoje, tudo o que eu queria nesse mundo era voltar no tempo, era ter tudo isso e curtir muito, muito, muito a minha família, sobretudo a minha mãe, que, com todas as suas qualidades e “defeitos”, foi realmente a melhor mãe que eu poderia ter tido e que hoje faz tanta falta. Ah, mamãe, que saudades da senhora :~~(

Fui abençoada com uma família maravilhosa. Um dia, eu tive tudo que qualquer pessoa poderia querer. Tive tudo que realmente importa nesta vida. Hoje, não tenho mais nada. Nada que realmente importe. Nada que realmente me faça feliz. Nada como era antes. Tenho “apenas” uma vida e, até onde sei, saúde. No entanto, não sei muito bem o que fazer com essas coisas. Nem se quero fazer algo.

Tentando voltar no tempo, nem que seja por alguns minutos:


Sorri...





‎"Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz"

Charles Chaplin

Lidando com as perdas

Minhas orações mudaram. Sim, elas mudaram consideravelmente. Até nisso minha vida mudou. A dor da perda de mamãe se abateu sobre mim de uma forma brutal, mudando tudo, inclusive a oração que fiz durante anos, desde que me entendo por gente. A oração mudou sem que fosse atendida completamente. Todos os dias, pedia a mesma coisa, saúde, paz e muitos anos de vida para meus pais, irmãs, familiares, amigos e família dos amigos. Já era algo automático, mas feito com muita fé e esperança. Uma oração de pedidos acompanhada sempre por agradecimentos pela vida.  Sei que Deus não é surdo, mas eu não tinha mais nada para pedir a Ele, a não ser isso, por isso repetia tanto. Bem... as coisas não aconteceram como eu pedi e tanto desejei. Sem que estivesse preparada ou que imaginasse, elas mudaram. Tudo, tudo, tudo.

Hoje, tenho tido um pouco de dificuldade em orar. A fé esmoreceu um pouco, mas não morreu. Não sei mais o que falar, o que pedir, o que exatamente agradecer, embora saiba que tenho muito para agradecer. Não tenho feito bem uma oração, mas uma “emissão de energias”, se é que posso chamar assim, para que todos que estejam enfrentando a mesma dor que eu possam encontrar consolo de algum modo. Tem surgido em mim uma vontade de ajudar a quem também perdeu uma parte de si, uma vontade de dizer para essas pessoas: "ei, você não está só". Mas como ajudá-las? Como?

Agora, já tendo vivenciado essa triste experiência, tenho consciência de que nada, absolutamente nada que possamos falar para as pessoas que estão passando por isso irá amenizar a dor delas. Mas também sei que, em momentos assim, é mais "fácil" desabafar com pessoas que não estão tão envolvidas e machucadas com o fato, com pessoas que estão realmente dispostas a te ouvir e ajudar, mesmo que essa ajuda seja "apenas" esta: a de ouvir com real interesse e dedicação. 

Sei que nessas horas não há muito para dizer, sei que todo mundo quer ajudar e oferecer um ombro amigo, o que é muito louvável. Mas, pelo menos eu, me sinto mais compreendida por quem sabe como essa dor machuca. Fases como "faz parte dos planos de Deus", "Ela cumpriu sua missão aqui na terra", "Chegou a hora dela" ou “Todos nós iremos um dias” parecem não ter sentido, parecem ser apenas uma ladainha repetida à exaustão por quem não tem mais nada a dizer. Parecem palavras vãs, jogadas ao vento. Palavras ditas por quem nunca passou por isso e que não faz ideia da dor, por quem parece ser inatingível pela morte, mas não são. Ninguém é. Mesmo que a gente acredite em algumas dessas palavras, elas perdem qualquer força, afinal, como alguém quem não tem noção do que você está passando pode saber de algo?

Mais tarde, quando as emoções começam a tomar seus lugares no nosso coração, dependendo da fé de cada um, essas palavras fazem ou não sentido. Não é que eu esteja “desprezando” o apoio das pessoas que nunca perderam ninguém. Pelo contrário, sei da importância e do valor desse apoio e peço: fiquem perto de mim! No entanto, não posso negar que quando converso com alguém que já passou por isso, ou quando vejo depoimentos na internet (algo que tenho feito muito), sinto-me mais compreendida. É como se eu pudesse, por um segundo, compreender de verdade o óbvio: que a morte faz parte da vida, que todos perdem, não importa o que façam ou quem sejam. Sinto-me menos sozinha no mundo assim.

Foi pensando nisso, no meu leve “consolo” ao ler relatos de outras pessoas que passaram por isso, conhecer histórias de gente desconhecida, mas que também sofreu pela perda, ver conselhos sobre como continuar a vida etc. que eu pensei em como seria interessante se houvesse um grupo para ajudar pessoas que perderam entes queridos. Vi que algumas cidades do País já têm algo do tipo e aqui, neste blog, achei depoimentos, textos e palavras de apoio, mesmo que não tenham sido direcionadas para mim (copio a página a seguir, mas existem muitas outras postagens “interessantes”): http://espacoangelical.blogspot.com/2009/07/reportagem-que-saiu-na-revista-marie.html

Se não posso ou não tenho maturidade suficiente para fazer algo assim aqui, pelo menos deixo aqui o espaço aberto para quem quiser falar do assunto, para quem quiser contar sua experiência sobre como “superou” a perda de um ente querido, para quem quiser desabafar etc.

Ainda está tudo extremamente difícil pra mim, a saudade é grande e machuca demais, mas, já que tive que passar por essa situação (que, se tivesse escolha, jamais passaria), estou tentando enfrentá-la da “melhor” forma possível, tentando fazer com que ela não seja em vão, que sirva para algo, nem que seja para escutar alguém. É (também) por isso que eu oro hoje.


“Diante da morte, todos os argumentos terminam. Somos limitados demais para encontrar a resposta exata que o nosso coração almeja. Para quem tem fé, a morte deixa de ser um fantasma e se torna a condição indispensável para o encontro do homem com Deus

Vale a pena ler de novo

  • A lição final
  • A sangue frio
  • Crônicas de Nárnia
  • George e o segredo do Universo
  • O caçador de pipas
  • O Pequeno Príncipe

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