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A Magia do Espelho: Lidando com as perdas

A Magia do Espelho

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Lidando com as perdas

Minhas orações mudaram. Sim, elas mudaram consideravelmente. Até nisso minha vida mudou. A dor da perda de mamãe se abateu sobre mim de uma forma brutal, mudando tudo, inclusive a oração que fiz durante anos, desde que me entendo por gente. A oração mudou sem que fosse atendida completamente. Todos os dias, pedia a mesma coisa, saúde, paz e muitos anos de vida para meus pais, irmãs, familiares, amigos e família dos amigos. Já era algo automático, mas feito com muita fé e esperança. Uma oração de pedidos acompanhada sempre por agradecimentos pela vida.  Sei que Deus não é surdo, mas eu não tinha mais nada para pedir a Ele, a não ser isso, por isso repetia tanto. Bem... as coisas não aconteceram como eu pedi e tanto desejei. Sem que estivesse preparada ou que imaginasse, elas mudaram. Tudo, tudo, tudo.

Hoje, tenho tido um pouco de dificuldade em orar. A fé esmoreceu um pouco, mas não morreu. Não sei mais o que falar, o que pedir, o que exatamente agradecer, embora saiba que tenho muito para agradecer. Não tenho feito bem uma oração, mas uma “emissão de energias”, se é que posso chamar assim, para que todos que estejam enfrentando a mesma dor que eu possam encontrar consolo de algum modo. Tem surgido em mim uma vontade de ajudar a quem também perdeu uma parte de si, uma vontade de dizer para essas pessoas: "ei, você não está só". Mas como ajudá-las? Como?

Agora, já tendo vivenciado essa triste experiência, tenho consciência de que nada, absolutamente nada que possamos falar para as pessoas que estão passando por isso irá amenizar a dor delas. Mas também sei que, em momentos assim, é mais "fácil" desabafar com pessoas que não estão tão envolvidas e machucadas com o fato, com pessoas que estão realmente dispostas a te ouvir e ajudar, mesmo que essa ajuda seja "apenas" esta: a de ouvir com real interesse e dedicação. 

Sei que nessas horas não há muito para dizer, sei que todo mundo quer ajudar e oferecer um ombro amigo, o que é muito louvável. Mas, pelo menos eu, me sinto mais compreendida por quem sabe como essa dor machuca. Fases como "faz parte dos planos de Deus", "Ela cumpriu sua missão aqui na terra", "Chegou a hora dela" ou “Todos nós iremos um dias” parecem não ter sentido, parecem ser apenas uma ladainha repetida à exaustão por quem não tem mais nada a dizer. Parecem palavras vãs, jogadas ao vento. Palavras ditas por quem nunca passou por isso e que não faz ideia da dor, por quem parece ser inatingível pela morte, mas não são. Ninguém é. Mesmo que a gente acredite em algumas dessas palavras, elas perdem qualquer força, afinal, como alguém quem não tem noção do que você está passando pode saber de algo?

Mais tarde, quando as emoções começam a tomar seus lugares no nosso coração, dependendo da fé de cada um, essas palavras fazem ou não sentido. Não é que eu esteja “desprezando” o apoio das pessoas que nunca perderam ninguém. Pelo contrário, sei da importância e do valor desse apoio e peço: fiquem perto de mim! No entanto, não posso negar que quando converso com alguém que já passou por isso, ou quando vejo depoimentos na internet (algo que tenho feito muito), sinto-me mais compreendida. É como se eu pudesse, por um segundo, compreender de verdade o óbvio: que a morte faz parte da vida, que todos perdem, não importa o que façam ou quem sejam. Sinto-me menos sozinha no mundo assim.

Foi pensando nisso, no meu leve “consolo” ao ler relatos de outras pessoas que passaram por isso, conhecer histórias de gente desconhecida, mas que também sofreu pela perda, ver conselhos sobre como continuar a vida etc. que eu pensei em como seria interessante se houvesse um grupo para ajudar pessoas que perderam entes queridos. Vi que algumas cidades do País já têm algo do tipo e aqui, neste blog, achei depoimentos, textos e palavras de apoio, mesmo que não tenham sido direcionadas para mim (copio a página a seguir, mas existem muitas outras postagens “interessantes”): http://espacoangelical.blogspot.com/2009/07/reportagem-que-saiu-na-revista-marie.html

Se não posso ou não tenho maturidade suficiente para fazer algo assim aqui, pelo menos deixo aqui o espaço aberto para quem quiser falar do assunto, para quem quiser contar sua experiência sobre como “superou” a perda de um ente querido, para quem quiser desabafar etc.

Ainda está tudo extremamente difícil pra mim, a saudade é grande e machuca demais, mas, já que tive que passar por essa situação (que, se tivesse escolha, jamais passaria), estou tentando enfrentá-la da “melhor” forma possível, tentando fazer com que ela não seja em vão, que sirva para algo, nem que seja para escutar alguém. É (também) por isso que eu oro hoje.


“Diante da morte, todos os argumentos terminam. Somos limitados demais para encontrar a resposta exata que o nosso coração almeja. Para quem tem fé, a morte deixa de ser um fantasma e se torna a condição indispensável para o encontro do homem com Deus

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