Saudade de implicar com os meninos, de ver as novelas e imitar os personagens, de assistir Carrossel na casa de amigos, pois na época o SBT só pegava com antena parabólica e eram poucas as famílias que possuíam o aparelho. Uma realidade bem distante dos tetos coalhados com grandes antenas redondas, até mesmo nas casas mais humildes, sinalizando que, felizmente, a diferença social diminuiu, assim como as distâncias.
Sinto saudade da felicidade simples que outrora foi causadora de tristeza. Às vezes a infância tem disso, possuímos tudo que precisamos para ser feliz, mas ainda não temos maturidade suficiente para perceber e aproveitar tudo.
Basta que eu feche os olhos para sentir de novo o cheiro do mato molhado, do curral fértil e do leite fresquinho. Lembro como se fosse ontem as brincadeiras com crianças que eu via duas vezes por ano, mas que pareciam amigas íntimas, lembro a curiosidade e o carinho pelos animais, o medo do escuro, o chamego com os pais.
A infância também tem gostos marcantes: Nescau com leite puro de vaca, nada de leite em pó ou de caixa, xilito, suco de morango, maria maluca, sequilho, tareco, picolé de creme de ovos que podia ter direito a repeteco. Tudo que uma criança gosta, mas que aidna não sabe valorizar.
Sinto saudade de esperar o Papai Noel chegar e de como descobri com alegria, não com tristeza, que eram meus pais que colocavam os presentes embaixo da cama. Sinto saudade de brincar com as bonecas tão desejadas, de projetar nelas a vida que gostaríamos de ter e de sonhar com o nosso futuro. Crianças são tão cheias de sonhos e isso é tão bom...
Sinto saudade de tudo, agradeço a Deus por tudo: pela família maravilhosa que me deu e por todas as outras coisas. Mas lamento ter compreendido alguns sentimentos tão tarde. Tarde para aproveitar melhor experiências, momentos e oportunidades, mas ainda cedo, muito cedo para aproveitar tudo o mais que a vida tem para me dar. E eu quero aproveitar tudo!